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Maiana Nussbacher Série Títulos subtítulos e editoras:

    Em grego, biblioteca significa “depósito de livros”, no entanto mais que um espaço físicodestinado a armazenar coleções de escritos, as bibliotecas guardam o conhecimento, a cultura,a história e a produção científica das civilizações.

    Colecionar livros é o que vem fazendo Maiana Nussbacher, suas pinturas da série “Títulossubtítulos e editoras” apresentam a vista que temos ao buscar livros numa biblioteca. Osvemos em pé, e pelas laterais podemos ler as informações que buscamos, no entanto, título eo autor não iremos encontrar nas pinturas da artista. Seu interesse está além do conteúdo dosmesmos, está no campo pictórico de cores e formas que estas justas posições formam.

    Usando uma paleta de cores vibrantes, quentes e frias, sua pintura inclusive não revela àprimeira vista que se trata de livros, mas como geralmente são apresentadas como trípticos epolípticos a montagem do trabalho remete imediatamente às prateleiras de uma biblioteca. Arelação entre cor e forma apresenta inequivocadamente a chave central nas pinturas daartista, o desenho inicial, traçado a partir da observação das bibliotecas, estrutura e dá formaàs composições. As sensações de planaridade e profundidade se alternam, jogando com apercepção do espectador, abalando suas certezas.

    Com alta carga de intensidade em sua produção, Maiana coleciona livros de um coloridodifuso, de formas que gravitam entre a composição abstrata e a sugestão de uma figuração,traça aí, um diálogo com Volpi e Paul Klee. Obras que indicam, na fatura a um só tempodespojada e cuidadosa que transparece ainda em sua pintura um componente onde o olhar seperde e não se fixa.

Evandro Prado

    A artista Maiana Nussbacher possui uma diversa e extensa produção. É notável que seus grandes impulsionadores de interesse deslocam-se pelo formalismo, focando nas questões geométricas e na relação da cor com a luz, que, ao se fundirem, dão sucessão a obras que sugerem diferentes cenários e perspectivas ao espectador. A sua investigação permite uma pluralidade de suportes, dessa forma, ela utiliza pintura, escultura, fotografia e desenhos digitais para materializar suas ideias.

     O fio condutor de sua pesquisa surge a partir da relação afetiva que ela tem com os livros. De uma forma ou de outra, a artista coloca em evidência um dos maiores  questionamentos contemporâneos, que consiste na incoerência entre a falta de leitura nos livros físicos e a quantidade excessiva de informações à qual somos diariamente expostos devido aos celulares. É necessário incorporar essa questão para assinalar nossa atual conexão com o conhecimento.

Maiana começa a revelar essas  indagações destacando em sua produção as lombadas de livros de maneira encantadora. Começando pela série “Livros de cabeceira”, que consiste em pinturas com tinta acrílica. É possível notar a formação visual  dessas  lombadas a partir de formas e cores lúdicas, que trazem um sentido ornamental para a sua obra. Com o degradê de cores ela consegue propor um diálogo entre o abstrato e o figurativo. 

     Partindo do mesmo pressuposto, surge a série “Títulos, subtítulos e editores” na qual a artista desenvolve um inesquecível e enorme mosaico a partir da pintura. Essa obra potente nos remete a uma grande estante de livros de uma biblioteca. O que a artista promove aqui é a possibilidade do espectador se perder e se deslocar no espaço. Essa produção quase monumental, exige que o espectador se desloque para visualizar o todo, e, de certa maneira o induz a perder e reencontrar o olhar em todas as particularidades dessa pintura. 

Ela, de forma distinta, comunica assim o seu ideal, de que a leitura é um teletransporte. Além de propor que o espectador se locomova, a artista o diverte pelo eixo da perspectiva, à medida que as formas revezam entre os conceitos de “plano” e “profundo”. Vale retratar também que, Maiana oferece pistas e ferramentas na composição dos símbolos e cores para o observador se remeter, mesmo que de forma longínqua, a obras de matriz  afro. 

    A seguir, afloram as séries “ICloud” e “Livro de Luz”, que a artista materializa na linguagem escultórica livros gigantes, quase como uma forma de protesto. No caso da série “ICloud”, ela dispõe esses livros pelas paredes, como se eles voassem, brincando com o formato “Disney”, em que tudo é lindo e vibrante. Essa obra dialoga com a falta dos livros físicos de maneira direta, principalmente devido ao nome da série. Já a produção “Livro de luz” consiste em um livro feito de led e resina de vidro, que acende e brilha, em meio aos outros livros “comuns” que estão empilhados abaixo e acima desse “especial”. O que a obra comunica também de forma direta, é a relação dos livros com o conhecimento, e como eles nos clareiam e esclarecem. 

Saindo da questão categórica dos livros, entramos na série “Mensagens ao vento”, que merece menção honrosa. A artista vincula o fato das notícias viajarem com rapidez na internet com o material utilizado. Maiana constrói diversos aviões que nos remetem a aviões de papel, mas que, na realidade, são feitos a partir da chapa de cobre fundida dobrada. Esse material é praticamente o usado nas fibras ópticas de wifi, em outro aspecto. Ela evoca a metalinguagem, a partir de uma brincadeira de criança, mas a escolha da dobradura também possui um quê de tradicionalidade.

 Maiana eleva o significado de sua obra traçando esse paralelo entre a brincadeira e a seriedade, a partir da eminência do seu tridimensional. A artista foi extremamente feliz ao lançar essa obra dessa maneira. Além de nos relembrar de nos lançarmos ao mundo,  ela torna patente a possibilidade de transformar um material trivial em obra de arte carregada de significado.

Após abordar algumas de suas grandes produções potentes no viés material e conceitual,urge a necessidade de abordar sua produção atual, “Pinturas Escultóricas” que nasceu a partir dos fundamentos anteriores, mas diz algo novo, de forma vigorosa.  

    Essa série consiste em chapas e peças volantes de ferro galvanizadas pintadas com tinta acrílica, nessas configurações aparentam ser imãs. Em algumas obras dessa série, as peças podem se deslocar, da maneira que o espectador preferir. Aqui, existe uma síntese dos aspectos formais recorrentes nas obras da Maiana, nos relembrando do movimento concreto, por meio de um viés contemporâneo. 

Nesse caso, a geometrização se expande tanto ao ponto de esbarrar nos conceitos da precursora Rosalind Krauss “arquitetura” e “não arquitetura”. A vista disso também é possível exprimir que a percepção e o corpo do outro ganham protagonismo, enunciando, a fenomenologia.

Em suma,  podemos  exprimir que a pesquisa da artista, por mais diversa que seja, nos  atravessa pelas contradições e alteridades que ela propõe, os assuntos são sérios, mas a forma que ela os apresenta nos instiga e nos diverte.

    A geometrização a conduz, e nos guia, o deslocamento do espectador também se faz necessário para desvendar os segredos existentes em suas obras. Maiana Nussbacher utiliza da metalinguagem de novo, quando literalmente nos convida a ler suas obras. Honrando sempre sua criança interior, ela nos privilegia lembrando que os nossos sentidos são como os receptores da verdade.

 Beatriz Segatto Grecco  

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